quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Liga

                                       Pô, nada a ver, inclusive porque era a liga da injustiça!
   
O programa A Liga que passa na TV Bandeirantes na verdade é argentino, e de criação da produtora Eyeworks. O seu sucesso está na abordagem da realidade com humor, drama e uma pintada de crítica social. Mostra que há muitas maneiras de contar uma história. Além de utilizar pessoas de destaque na sociedade o programa tem também apresentadores fixos, passando por ele figuras como Rafinha Bastos, Thaíde, Débora Vilalba, e, atualmente, Sophia Reis.
Mas o que muita gente não sabe é que seus idealizadores fizeram o programa a partir de uma adaptação das ligas de futebol que houve nos primórdios do futebol baiano. Soube outro dia que a FBF vai cobrar royalties da emissora!  Quando o programa fala das confusões sociais na verdade está reproduzindo a confusão que havia na Bahia nas primeiras décadas de nosso futebol que parecia caso de polícia.
                                              Rildo nem ligava pra liga, dava potapé nela!

O campeonato baiano foi organizado por várias entidades, pois qualquer divergência naquele tempo dava em “racha” e se pensava em criar uma nova federação, que se denominavam “ligas”. A primeira liga foi criada em 1905, a Liga Bahiana de Sports Terrestres, mas só resistiu até 1912, sucumbindo no cipoal de fofocas, disse me disses, politicagens e abandonos de clubes.
Aí os pequenos clubes, que antes criado tal de Liga Nacional de Esportes, fundam a Liga Brasileira de Sports Terrestres que, depois de muita confusão, organiza o campeonato a partir de 1913. Mas esta liga não alcançou o consenso dos clubes, convivendo, pelo menos por dois anos, com a Liga Sportiva da Bahia que organizou campeonatos paralelos. Durma-se com um barulho desses!
                                                Nem mereceu um filme de Harry Potter!

Os clubes entravam e saiam da liga de acordo com seus interesses de ocasião, e outros, como o EC Vitória a abandonaram definitivamente. Mas foi o campeonato de 1918, que por coincidência ocorreu no último ano da Segunda Grande Guerra, que iria jogar uma pá de cal na liga “Brasileira”. Teve de tudo neste certame, onde a indisciplina e desorganização campeavam no velho campo do Rio Vermelho, e, pra piorar, a liga anulou um jogo Ypiranga X Botafogo vencido pelo primeiro.
Mesmo com tudo isto o Ypiranga foi bicampeão num campo que caía aos pedaços e cujos jogadores tinham que trocar a roupa á vista dos assistentes, inclusive senhoras “respeitáveis” da nossa elite! No meio do campeonato morre o próprio Arthur Mendes o idealizado da Liga Brasileira.

                                     Ah quanta coisa a liga acharia na Bahia pra levar pra TV!

O quadro de nova crise no futebol baiano fez com que se movimentassem vários setores da sociedade que adquirem um espaço no aristocrático bairro da Graça e onde começa a ser construído o primeiro estádio da Bahia. Os novos tempos permitem unir os clubes recalcitrantes e atraem vários daqueles que haviam abandonado as ligas anteriores. Mas, antes que as reuniões da comissão, que eram feiras no clube Baiano de Tênis, criassem uma nova liga, eis que surge uma quarta entidade, a Liga Bahiana de Desportos Terrestres.
As articulações animam o seu primeiro campeonato, o de 1919, que seria um dos mais concorridos, e que teve até, pela primeira vez, o Torneio Início ganho pelo Ypiranga. As obras do campo da Graça iam de vento em popa após ter sido levantado o capital necessário para comprar a roça do Sr. Rêgo, situado na Avenida Euclides da Cunha.
                                                   A liga as vezes ficava sozinha!

Mas, mesmo com todas essas novidades, a união dos baianos mostrava que era só provisória. O primeiro problema com os juízes, no jogo Fluminense X Ypiranga o caldo quase entorna sendo anulado o jogo pra possibilitar o empate do certame entre o mais querido e o Botafogo. A usura do proprietário do campo do Rio vermelho levou a nova crise, desta vez para aumentar o dinheiro do aluguel pago pela liga. Em novembro tomou posse um novo presidente, Zacarias da Nova Monteiro, que fez o possível pra levar o barco da liga.
Mas a crise do desempate do certame entre o Botafogo e Fluminense quase acaba com a liga de vez. O campeonato só foi decidido em maio de 1920. O primeiro jogo, em fevereiro, deu empate, mas o representante do Fluminense diz que “não aceita o título” obtido desta maneira. Aí o Botafogo passa a se considerar campeão. O episódio rendem dois meses de “pau” na liga. Marca ou não marca novo jogo? Depois de muito pano pra manga, da renúncia do presidente da liga, da posse de outro, do abandono de clubes, o Fluminense é proclamado campeão pois o Botafogo também havia se retirado.
                              O pessoal da liga passou no Engenho Velho, mas não saiu nada!

A situação ocasiona uma enorme confusão pois o alvi rubro não havia se desfiliado da liga mas abandonado a reunião. E aí fica o dito por não dito, revoga-se o ato que proclamou o Fluminense campeão, faz-se o acordo de criação de uma nova liga, e se organiza em maio uma nova partida pra decidir o título do ano anterior.  
Mas, no dia marcado para a grande decisão os jogadores do Botafogo, em virtude do péssimo transporte para o Rio Vermelho, só chegaram ao campo ás dez horas da manhã. O regulamento previa para isto a aplicação de WO.  Depois de muita discussão se o Fluminense jogava ou não jogava a honra da firma foi salva pelo prócer deste clube Anísio Silva que, confiando na qualidade de seu time diz que não aceita o título sem jogar. Só mesmo naquele tempo ainda havia cavalheiros! Durante o jogo, porém, o jogador Antoninho fez um gol e depois os diabos rubros caíram na defesa e seguraram o resultado. Coisas do futebol, e o Botafogo levou o caneco.
                                                     Só que o mal era a própria liga!

A quinta liga, a Metropolitana, é criada e arranjado outro presidente, o Sr. Carlos Silva. E, enquanto não fica pronto o estádio da Graça, o campeonato de 1920 é disputado no Rio Vermelho. Desta vez, talvez em função da melhoria de renda e condições que a praça de esportes traria para os clubes, é dada uma trégua na verdadeira guerra em que sempre esteve envolvido o nosso futebol.
Ainda mais que a nova liga foi filiada á CBD, o que significava a possibilidade de trazer clubes de fora para amistosos e participar das promoções daquela confederação. Foi assim que empataram três clubes no final do certame, Ypiranga, Associação Athlética e Fluminense, e o primeiro levou a taça sem que por isso a Bahia acabasse.  
                            Olha aí quando filmaram em São Caetano, mas também não saiu!

·          Agradeço ao Almanaque Esportivo da Bahia.

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