quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Em Abbey Road

 
                                    
Naquele dia dormir não foi fácil por perdermos a noite no bairro do Soho. Mas conseguimos acordar às oito e meia da madruga porque era dia do Beatles Social Club ir à Abbey Road. Era mais um sonho antigo que iria ser realizado. Como todo mundo sabe como os baianos atrasam fomos tomar café na esquina. Foi barbada tomarmos nosso primeiro breakfast em Londres. Nem precisava saber inglês. O cardápio estava na mesa e os “petiscos” eram expostos em uma cristaleira. Eu ainda pronunciava o que estava escrito,
- Coffee and milk, please.
Pedir um sandwich foi canja mesmo. Enquanto eu estava todo orgulhoso vomitando meu inglês Cybele ia mesmo, na mão grande, apontando pras coisas da vitrine. O que sei é que, por um ou por outro caminho, não nos apertamos. Depois ainda tivemos que esperar na recepção pelo pessoal do grupo que chegou aos poucos.
                                        Pô não dixaram nem um espacinho na placa! 

Foi lá pras dez e meia que fomos pro metrô de Queensway na rua vizinha. Aí Valdir deu a dica que foi indispensável por todo o tempo em que estivemos em Londres, comprar a carteirinha de passe para uma semana. Foi caro, (cerca de 65 libras pra eu e Cybele) mas extremamente útil. Imaginem que não pegamos ônibus e usamos apenas dois taxis nos oito dias que ficamos. E olhem que nem precisa tirar o passe da carteirinha bastando passar em cima do leitor pra acender a luzinha verde e abrir a catraca.
O metrô é bem sinalizado e até nós conseguimos sozinho andar nele. É só ler as placas, tomar cuidado pra não enfiar o pé entre o carro e a plataforma, e ficar observando em quais estações o trem para.  Mas nem tudo são flores no metrô. Confesso que nunca vi gente tão apressada. Tem, que ter cuidado pra não ser atropelado, até nas escadas rolantes onde nos ensinaram a manter a direita pois tem um pessoal que está sempre correndo. Meus sobrinhos nos disseram que é para o trabalho mas eu tenho minhas dúvidas, acho que nem eles sabem mais por que correm.
                                               Não parece o que vai ter em Salvador?

Além do mais foi nesse dia que eu e Cybele fomos “separados” pela primeira vez. Nem me lembro mais qual foi a estação. É que quando trocamos de plataforma e o grupo foi entrando no vagão na Bond Street Station a porta fechou em minha cara quando Cybele já estava dentro. Bati no vidro, fiz escândalo, mas nada adiantou pois lá nem o primeiro ministro consegue abrir a porta.  Mas o pessoal do grupo que ficou fora me tranquilizou dizendo que eles iam nos esperar no ponto onde saltaríamos. Não deu outra, e foi bom pra renovar os abraços do casal.
Aí fomos a pé pra Abbey Road. Nesse dia eu tinha preparado uma surpresa. Fui vestido com a camisa do Vitória e era com ela que iria aparecer para o mundo e o Sport TV. Já tinha avisado, inclusive, o pessoal pela internet mas acho que ninguém deve ter se animado a acordar as seis da matina pra ver agente passar pela câmera que filma todo mundo na sinaleira famosa. Mas não é que meu amigo Roberto Cabus (ferrenho torcedor tricolor) pensou da mesma maneira? O resultado é que deu pra sacar a baianidade irreconciliável daquele grupo que não se entendia nem no futebol, pois um vestia a camisa do Vitória e outro a do Bahia.
                                                E ainda vimos um cover de Paul!

Mas voltemos á vaca fria. Saímos do metrô dobramos prum lado, entramos numa rua, e de repente fomos seguindo por outra, aparentemente sem nenhuma diferença das outras do bairro, e, de repente, não mais do que de repente, eu vi a sinaleira famosa. Meu coração bateu mais forte. Poxa, me lembrei logo da foto que singrou o mundo e que tantas vezes vi na Bahia. Estava até na capa de um CD, aliás não se chamava assim na época, mas disco. Atrás da gente tinham umas casas cuja principal era a onde funciona o estúdio onde gravaram John, Ringo, Paul e George há quase cinquenta anos!
A rua é movimentada e passam carros a todo minuto. Pra tirar fotos só contando com a compreensão dos apressados ingleses. Bem que a maioria para ou diminui a velocidade mas tem o pessoal que não está nem aí e até acelera. Será que não gostam dos Beatles? Já havia algumas pessoas atravessando e tirando fotos e, creio que chegaram a uns cinquenta enquanto estivermos ali.
                                              A troca de guarda eu conto outro dia!

Perdi as contas de quantas vezes atravessei a rua. Pra Cybele bastou uma mas acho que pra mim foram umas dez. Duas delas a pedido de Valdir (que surpreendeu levou uma bandeira do Vitória) e mais duas marchando ritmicamente pra imitar o posicionamento de cada Beatles na foto famosa. AÍ o grupo todo quis atravessar dessa forma, os homens e (sim) as mulheres, o que é inédito pois só conheço fotografias assim ali de homens. Ainda levamos quase uma hora andando de um lado pra outro, tirando fotografias de todo jeito com o pessoal que batia as fotos sempre procurando uma melhor posição arriscando-se a serem atropelados.
Houve um momento que eu passei a fotografar o estúdio. Andei pelo passeio procurando um ângulo melhor, e foi quando vi um cara na entrada tirando fotos com uma guitarra. Aí não cacei conversa e fui procurando o portão de entrada. Imagine como são respeitadores da lei esse ingleses. Não é que o diabo do portão estava aberto e só uma pessoa havia se arriscado a entrar! Certamente era brasileiro, pensei. Pois então iriam ser dois. Passei pelo portão que tinha uma placa onde estava escrito No trespassing, percorri os vinte metros que me separavam da escada famosa e me fixei perto dela pedindo a Cybele e ao pessoal para tirar fotos.
                                                 Todo mundo quer sair na foto!

Não se passou nem um minuto para que eu ouvisse o grito:
- Excuse me!
Bem, meu inglês não era tão ruim e deu pra entender que o cara não estava pedindo desculpa porra nenhuma! Mas fingi que não entendia deixando que batessem o restante das fotos. Mas o cara insistia:
- Excuse me!
Depois de mais umas duas vezes o cara certamente percebeu que não adiantaria ficar pedindo desculpas e tinha de agir. Ouvindo seus passos considerei ser mais prudente encaminhar-me em direção ao portão, aliás atendendo aos nervosos apelos de Cybele e do pessoal do grupo que gesticulava lá fora.
Lembrei-me na ocasião do episódio de uma aristocrata francesa durante a revolução daquele país:
- Ande o mais devagar possível para não demonstrar medo, e o mais depressa possível para não considerarem como provocação a sua atitude.
                                     A sacanagem é quem nem Paul nem Ringo apareceram!

Nem olhei pra traz e consegui chegar ao portão antes que ele me alcançasse. Só ouvi o barulho do portão batendo às minhas costas. Aí foi só me vangloriar com a travessura. Mas houve quem me dissesse que isso poderia ser até considerado invasão de propriedade privada... Mas valeria a pena pela foto que consegui.
Na saída reparei que todo o muro da casa estava ocupado com mensagens. Aí procurei um lugar pra inserir a minha. Confesso que me custou um pouco descobrir um lugarzinho. Acabei achando uns dez centímetros quadrados onde escrevi
Franklin e Cybele has have, 3/9/11.
                                   Todo mundo do grupo queia sair na foto em Abbey Road!

Quando vocês forem lá podem procurar. Depois de mais um tempo respirando aquele momento Valdir lembrou que tínhamos de ir pra casa de Paul McCartney, e aí nos dirigimos a pé para a Cavendish Avenue que não fica muito longe dali. Não sei por que os ingleses tem a mania de chamar de nomes diferentes uma rua. Em um lugar é Street, em outro é Road, e há também as Avenue. Uma pessoa tentou me explicar dizendo que são diferentes, que um é rua, outro é rodovia e o outro avenida, mas achei tudo com cara de rua mesmo.
A casa, como não podia deixar de ser, estava fechada, e é do beatle desde os anos 60. Mas só é usada quando ele fica em Londres. É grande, bonita, vi árvores lá dentro, mas o muro era muito alto pra se ver alguma coisa, além do mais havia os danados dos portões... Assim, tiramos fotos individuais e do grupo nos portões, na placa da rua, e foi só. Não teve muita emoção como Abbey Road.
                                          Desse aí tem um montão no metrô!

Saímos dali para outro lugar da excursão o Brother Coffee Shop que fica na St John Station. Na verdade era uma pequena loja que só vendia artigos sobre os Beatles. Pra vocês terem uma ideia se vendia até cópia das placas das ruas onde moraram os membros do famoso conjunto. Foi só ficar corujando mas comprando pouca coisa pois Valdir alertou que existiria maior variedade, e melhores preços (argumento determinante para convencer o pessoal) em Liverpool.
Pegamos de novo o metrô e nos dirigimos para o almoço/merenda, pois iriamos nos encontrar com o guia que nos levaria para conhecer os pontos relacionados aos Beatles em Londres. E quando saltamos na Green Park Station tinha um musico cantando Norwegian Wood. Será que isso tinha sido armado?
                               Ah que arrependimento não ter ido aos shows de Paul no Brasil!

O encontro era no Starbrucks Coffee em Westminster e o guia apareceu para dizer que seu pai estava internado num hospital e não poderia fazer o programa naquele dia. Valdir ainda conseguiu arrancar dele a esperança de que o compromisso poderia ser cumprido no dia posterior ou na volta mas nada rolou.
O jeito foi Valdir ser o nosso guia, aliás o que já estava sendo na prática. Logo depois do almoço/lanche (lá almoço é lunch mesmo!) já fomos a pé para a rua que viu a última apresentação dos Beatles em 1969 num terraço de um prédio que hoje está fechado, em obras, para a instalação de uma loja. Confesso que me decepcionei com o prédio. Não tanto pela altura mas pela largura pequena. Na verdade esperava tudo grandioso e o prédio tem, praticamente a mesma largura de muitas casas. Mas deu pra tirar muitas fotos e ficar olhando pra parte de cima do prédio. Ah como suspirei por aquele concerto em meus 21 anos!
                                            Mas atravessar assim já é sacanagem!

Depois o programa ganhou ares turísticos. Fomos pegar o metrô para o centro da cidade. Na saída do buraco fomos subindo a escada rolante e, demos de cara com o Big Ben. E ao lado dele vinha tudo, o Parlamento, as pontes as barcas, a London Eye, etc., etc. Havia uma multidão andando por ali e nós tentávamos tirar fotos como podíamos. Mas era só pra dar uma “geral” só fomos parar perto da London Eye que já fica do outro lado da ponte.
Aí o grupo começou a discutir a subida nesta roda gigante monstro que dizem que é a melhor vista de Londres. Eu e Augusto dissemos logo a nossa opinião contra subir naquele negócio. Foi um tal de querer nos convencer que nem conto a vocês. Disseram que roda muito devagar, que as bolhas são muito seguras, entre outros. Não sei Augusto mas meu problema mesmo é com a altura! Ora eu não subo nessas coisas no Brasil porque vou subir na Inglaterra?
                                       E olhem que eu entrei no quarto de John...sem ele!

A maioria estava com fogo de subir (até Cybele) e foi pro guichê comprar os tickets mas desistiu loguinho. É que estava apinhado de gente pra subir na London Eye. A fila se estendia por quase toda a largura da praça.  Aí nova sessão de fotos e aproveitamos pra passar o telefone pra nosso sobrinho Matheus explicar como chegar a seu apto em Willesden Green. Mas aí já é assunto pra outro dia.

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