segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Eu estive em Penny Lane

                                                   
                                                                                                         Penny Lane está nos meus ouvidos
                                                                                                         e nos meus olhos
                                                                                                         lá embaixo do céu azul suburbano

Acordamos no dia cinco de setembro as sete da matina excitados pela viagem de trem para Liverpool. Mas na recepção do Hyde Park não havia ninguém, nem o responsável pela portaria nem ninguém do Beatles Social Club. Tínhamos que encerrar a conta do hotel nesse dia mas o jeito foi levar as malas para uma lanchonete, a Roma, e tomar café enquanto esperávamos o pessoal.
No retorno já havia algumas pessoas do grupo mas o recepcionista só chegou depois da nove e o restante do grupo mais de dez horas. Fomos então em um transfer até a estação ferroviária. Ali era uma confusão só onde todos arrastavam malas pra algum lugar. Havia um mar de plataformas, elevadores e lojas e, nessa ocasião, fizemos o que costumávamos, seguir atrás do líder Valdir.
A viagem foi tranquila, e ainda tivemos o prazer de ver de longe Strattford, a cidade onde nasceu Shakespeare. No entanto houve o que não chegou a ser um incidente. Quando eu e Cybele entramos uma senhora nos abordou dizendo que nós não éramos do vagão “D”. A insistência nos fez mostrar o bilhete ao seu marido só aí a convencendo do contrário. Aquilo me cheirou a discriminação de brasileiros.
                                          Eu vi a hora de encontrar algum deles na barbearia! 

Chegamos depois das duas da tarde na bela estação de Liverpool. Aí, encontramos com Steve, o responsável por nos guiar na cidade, e tiramos várias fotos. Ele era sócio de uma das principais lojas de lembranças dos Beatles da cidade e que se situa colada no hotel A Hard Days night.
Dirigimo-nos então para o lugar da nossa hospedagem tendo o desprazer de verificar que era mais um “hotel conceitual”. Na entrada, ao invés de alguém pra receber, tinha que passar uma “chave” num identificador. Quando a porta abriu vimos uma enorme escada, mas surgiu um cara que foi ajudando a carregar as malas pra cima.
O elevador tinha um código que tinha de colocar pra subir e quem o perdesse estava frito pois a porta das escadas ficava fechada. Aí tivemos uma reunião com o responsável em um dos quartos que não deu pra entender nada, pois só falou em inglês. Depois nos deu um papel com as regras. Valdir traduziu o essencial e entendemos que era um hotel semelhante ao de Londres com a diferença de que os quartos eram muito melhores.
                                                                 Ah esse bairro!

O pessoal ficou em quartos duplos, triplos e múltiplos, e quem ficou no primeiro como nós se deu bem. Na verdade era um apartamento com uma sala grande, quarto e banheiro. Lemos, aos trancos e barrancos, algumas das instruções e, futucando aqui e ali, conseguimos operar o fogão e a torradora. Uma vitória, da nossa burrice quadrada.
Já eram cinco horas e parecia que o pessoal não estava nem aí para o horário do almoço. Aliás isso iria se reproduzir durante todo o tempo em Liverpool quando a diferença de hábitos e geração entre os membros se refletiu durante toda a excursão. Só as 17 horas que fomos almoçar, depois de cruzar o centro onde haviam várias referências aos Beatles.
O almoço foi no belíssimo cais da cidade que outrora teve muita importância econômica e que foi resinificado como área de lazer e entretenimento. Ali encontramos inúmeras lojas e locais de alimentação, o Museu Beatles Story, um navios-bar, o Museu de Liverpool, dois belíssimos ancoradouros, além de desfrutar uma vista da baía (ou rio?). O restaurante era italiano e quase que só havíamos nós às cinco da tarde e a comida foi até generosa mas abaixo de mediana.
                                                               Até Marx estava lá!

Aliás a alimentação foi um problema durante toda a viagem ao Reino Unido e Irlandas, onde só dá pra comer sanduíche e batata frita (chips). O resto é procurar restaurantes de outros países e suportar quando são uma merda!
Pensávamos em aproveitar a “tarde” (que já havia findado há certo tempo) pra visitar alguns locais mas descobrimos com surpresa que o comércio em Liverpool fecha as seis, e às vezes até antes. De forma que o jeito foi passar em shoppings, que prolongam um pouco o atendimento, para comprar lembranças dos Beatles e CDs. Como nos disseram que tinha que esperar a loja de Steve me limitei a ir na seção de jazz e me embebedar com Billie Holiday, Charles Mingus, Ray Charles e Louis Armstrong.
Daí fomos direto para o Cavern Club que mereceria diversas visitas enquanto estivemos na cidade. Foi uma emoção só pisar no clube famoso que encerrou suas atividades nos anos 60, foi reaberto e reconstruído. A entrada não é mais a original, que fica mais ao lado, e bastou descer algumas escadas pra estar lá no clube famoso onde John, Paul, Ringo e George tocaram mais de duzentas vezes entre 1961 e 1963. Paul voltou ali para gravar um CD mais tarde.
                                        Tiramos foto de tudo que tivesse o nome do bairro!

Pra sorte nossa havia um cara tocando musicas dos Beatles e, embora não fosse o que eu esperava, isso aumentou nossa emoção. Sentamos às mesas, tomamos chopes, tiramos fotos, tudo o que tivemos direito. Cansei de olhar para o pequeno e baixo palco onde o cara estava se apresentando. Deu pra ver porém que o grosso do público presente era turista. Ao nos despedir o pessoal do quarto nove marcou uma festinha pra comemorar a nossa chegada.
A noite foi só pra verificar mensagens no lap top de Vitor que fez a gentileza de nos emprestar. Eram centenas e tive que selecionar. Valdir tinha ido ao nosso quarto acertar o pagamento das coisas. Mas, quando eu estava mexendo no computador, Renata veio informar que ele tinha recebido cem euros em vez de libras e não sabia de quem foi.  
Depois, voltei pro quarto a tempo ainda de ajudar Cybele com a tal da temperatura da agua, sempre problemática nessas excursões. Aí aproveitei pra olhar minha carteira e a bolsinha que levava escondida na cintura observando que ali havia euros e libras. Uma dúvida cruel me assaltou. Será que dei a Valdir as notas erradas? O jeito foi pedir a Cybele o dinheiro que levamos para contar. Mas não chegamos a lugar nenhum. No entanto, como as notas dadas eram de vinte euros e eu possuía várias notas de vinte euros na bolsinha acabei por me responsabilizar pela situação chamando Valdir e trocando as notas.
                                   Não adianta dar lingua Caetano, voce bem que gostava!

Acabamos não indo no congraçamento marcado pelo pessoal pois depois do banho time tremores em virtude do frio. Só acabaram quando me cobri com várias colchas. Acho que de noite a temperatura baixou feio. Cybele ficou preocupada.
No outro dia acordamos ás oito e meia da madrugada para a visita ao Beatles Social Club. Mas não conseguimos fazer o café no apto tendo que tomar café na esquina. Quando descemos mais uma vez não vimos ninguém. O pessoal do grupo ainda dormia, quanto aos funcionários do hotel, nenhum pé de pessoa!
Pegamos então a van que foi em direção á Catedral de Liverpool. No caminho passamos pelo cartório onde John foi registrado, o lugar onde casou pela primeira vez, paramos no belo orquidário da cidade, que teve uma doação de Paul (sic!), paramos em frente e tiramos fotos nas casas de George e de Ringo Starr. Não pudemos entrar na do primeiro mas fomos recebidos por uma senhora de 90 anos que foi vizinha do baterista e o conhecia desde menino.
                                                   Que lugar idílico(suspiros)!

Muito simpática, mostrou fotos e falou (em inglês naturalmente) sobre aspectos da vida do mesmo. Vimos o prédio que foi a capa do CD de Ringo e fomos à modesta casa onde passou a sua infância que está sendo ameaçada pela construção de um conjunto residencial. Há inclusive uma campanha mundial para salvar a casa.
As próximas paradas foram as escolas de Ringo, e de Paul/John. Fomos alertados, entretanto, de que não se podiam filmar as crianças. Em todos os momentos havia sempre uma saudável preocupação do guia Steve em não perturbar a intimidade das pessoas. A escola de Paul/John porém, era um prédio histórico e que se situava numa rua que dava pro cais e onde os emigrantes desciam para ir embora da cidade. Há inclusive um estranho monumento constituído de malas, violões, e outros apetrechos de viagens.
Apesar de John e Paul estudarem ali foram se conhecer mais tarde. Ali foi um importante momento de todos tirarem fotos. Depois foi caminhar para ali perto ver o pub que era o “escritório” de John nos intervalos ou quando “matava” mesmo. Mas Steve deixou escapar que era também lugar de pegança das meninas.
                                              Sái pra lá, Ricardo Teixeira aqui é sacanagem!

Depois disso fomos conhecer o lugar histórico onde John conheceu Paul quando era adolescente. Foi numa festa da paróquia onde o Quarry men, grupo onde John tocava, um dos centenas que havia em Liverpool, se apresentou num desfile nos fundos da igreja. No intervalo John foi ao salão onde se realizava a quermesse e foi apresentado a Paul. Este pegou a guitarra de John e mostrou os acordes certos de uma musica que John não fazia por ter aprendido banjo. Apesar do “fora” acabaram fazendo amizade e mais tarde entrou no conjunto de John.
Começou então uma discussão no grupo pois Valdir achava que este teria sido o maior encontro musical da história. Eu objetei lembrando da relação entre Mozart e Haydn e outras mas depois me convenci que foi UM dos mais importantes encontros e que produziu mais de duzentas musicas, dezenas delas inesquecíveis para a humanidade.
Atravessamos a rua andando para o cemitério que fica atrás da igreja. E, para nossa surpresa, fomos apresentados a nada menos do que a tumba de Eleanor Rigby. Esta senhora tem estátua na cidade e é cantada em prosa e em verso depois da musica de John e Paul mas o que eles dizem é que se tratava de uma pessoa solitária. Fiquei de investigar mais sobre o assunto pois não me convenci muito com as informações que recebemos na oportunidade. O guia Steve mostrou onde foi o desfile dos caminhões onde tocou a banda de John naquele dia que conheceu Paul numa área que hoje já foi absorvida pelo cemitério.
                                                    Saudades dos antigos telefones!

A van/ônibus que nos levava ia tocando musicas no caminho e ao entrarmos em uma estrada passou a tocar nada menos do que Penny Lane. Confesso que não deu pra segurar a emoção quando o guia nos disse que estávamos entrando no bairro de Penny Lane que ficou imortalizado na música de John e Paul.
Posamos ao lado da placa, tiramos fotos de suas ruas, e, a glória, entramos na própria barbearia da qual a musica fala. Pra completar o nosso prazer fizemos um lanche (sempre no lugar do almoço) no bairro famoso. Tudo isso ainda estava em nossa cabeça quando chegamos na enfermaria onde John nasceu e que hoje faz parte da residência universitária da cidade. Só então fomos liberados para jantar, com o casal Almira e Dorival, mas no Bela Itália, a mesma cadeia italiana de ruindade de comida que havíamos experimentado desde Londres.
Depois do jantar foi outra sequência de emoções no Cavern Club. Havia um bom músico se apresentando e cantando músicas dos Beatles. Mas o Beatles Social Club conseguiu que vários integrantes do grupo se apresentassem. Cantaram Valdir, Faustão, Vitor e Renata para os aplausos dos frequentadores. Confesso que até eu pensei em cantar mas sem ensaiar iria passar vergonha. A apresentação de Faustão cantando Blackbird me levou às lágrimas.
                                                        Chora Roberto Carlos!

Depois o pessoal foi pra gandaia curtindo a noite e nós fomos pro hotel. Era muita emoção para um dia só!
As árvores choram hoje
uma brisa à distância te chama seu nome
abra suas asas e espere(...)
os frágeis não podem suportar
o cansado e o estragado, um lugar tão impuro
a imobilidade deste mundo
pois uns pássaros voam tudo antes de verem seu dia.
                                      John Lennon e Paul McCartney

Nenhum comentário:

Postar um comentário