terça-feira, 1 de novembro de 2011

Gigantes de aço

                  
Schawn Levy lançou recentemente uma ficção científica. Tudo bem que não é uma grande novidade afinal já estamos cheios de monstros de metal no cinema. Mas dessa vez Hollywood atacou no esporte colocando como personagens robôs gigantes lutando boxe. Atores mesmos são poucos pois é mais barato construir figuras que pagar cachês, mas aqui e ali se percebe Hugh Jackman, Kevin Durand e Evangeline Lilly.
Mas a principal novidade do filme não são os gigantes artificiais se pegando mas a nova cópia das coisas que acontecem na Bahia e não reclamamos. A Meca do cinema continuará nos devendo, só não sei até quando. É que há exatos oitenta anos atrás o certame baiano parecia alvissareiro. Tinha ocorrido uma revolução no país há pouco tempo e a Bahia era governada (vejam se pode!) por um interventor cearense, que nem sequer tinha um alto posto, era simplesmente o tenente Juracy Magalhães. E o pior é que faria carreira política no estado.
                                                            Mas o que é isso?

Depois da união que ocorreu na Bahia para a inauguração do campo da Graça em 1920 vários clubes haviam abandonado a liga e o campeonato era disputado por umas sete equipes. Mas dessa vez havia vários motivos para a animação geral. Os clubes das elites (Associação Athlética, Baiano de Tênis, Yankee e outros), se enfraqueceram e a conjuntura ajudou a ascensão dos clubes populares.
Começava lentamente a mudar o público que frequentava a praça esportiva da Graça pra desgosto das elites que choravam a perda de seus clubes tradicionais. A última vez que as elites paparam o caneco foi em 1927. Mas logo depois saiu outro bicampeonato do Ypiranga. No primeiro botando quatro pontos na frente do aristocrata Bahiano de Tênis, e no segundo, disputando com outro clube popular, o Botafogo. O Yankee já tinha deixado de disputar e Associação e Bahiano se conformaram com o terceiro e quarto lugares.
                                        E olhem que nem precisa de boxeador de verdade!

O ano da chamada revolução foi um dos mais fracos que se tem notícia. Parecia com os primórdios do certame com a participação de apenas cinco clubes. Inscreveram-se apenas Botafogo, Ypiranga, Fluminense FC, Royal e Democrata, esse último tal vez pra mostrar ao regime que nem todos os baianos ficaram com a velha república de Washington Luiz. Mas o Democrata FC, mostrando a insidia dos baianos, ficaram na lanterna. Sem Vitória, Bahiano ou Associação as elites estavam mal e deu Botafogo na cabeça. Tiveram que acabar o certame às pressas pois estava começando a tal da revolução.
Foi por isso que a liga apostou todas as fichas no certame de 1931. Havia outra novidade. Os clubes Associação e Bahiano acabavam com seus departamentos de futebol. Mas há males que vem pra bem e o que parecia uma calamidade, colocando por terra a tradicional disputa povo X elites, terminou por beneficiar o nosso futebol. Os desprezados jogadores dos dois clubes se reuniram e criaram um novo clube, o EC Bahia, inscrevendo-o logo no campeonato.
                                                         O negócio era na porrada!

Seria a primeira vez que os times da elite não iriam disputar, a não ser o malfadado Royal que nunca tinha chance. De quebra ainda apareceu o São Cristóvão que, durante muito tempo, seria um novo clube pequeno mas tradicional no futebol da Bahia. Esse ano começa a marcar o momento onde até os torcedores de classes médias começam a se bandear para os clubes populares. O certame prometia um duelo de verdadeiros gigantes de aço e olhem que não era ficção científica.
Na primeira rodada Ypiranga e Bahia venceram seus adversários e confirmaram seu favoritismo, no entanto o poderoso Botafogo só empatou. E logo em maio ocorre o confronto de gigantes, Bahia X Ypiranga. O aurinegro era o mais querido mas no entanto o tricolor havia herdado a torcida elitista ao tempo em que começava a ganhar simpatias também no campo popular. E quem em sua sã consciência poderia esperar o que se seguiu, com um banho do novato esquadrão de aço no recente bicampeão por seis a dois?
                                                             Não, aí é outro filme!

O massacre do gigante acordou a todos. O Botafogo voltou a ganhar assim como o Ypiranga. Em junho seria realizado aquele que seria depois chamado de Clássico do pote, Bahia X Botafogo. Mas desta vez os alvi rubros estavam atentos e terminou em dois gols para cada lado. As esperanças de impedir o remanescente das elites em ficar com o título agora estavam entregues aos diabos rubros, que, logo após, enfiou cinco no aurinegro.
O primeiro turno terminou com o Bahia na frente com sete pontos mas o Botafogo vinha logo atrás com seis, ficando o gigante Ypiranga com quatro. O alvi rubro inicia a segunda fase vencendo o São Cristóvão com dificuldade pelo escore mínimo e o Ypiranga cai outra vez, desta feita para o Fluminense por cinco a quatro.
                                                      Aí nem adianta meu filho!

A tabela marcava o clássico Bahia X Botafogo para o fim de setembro. Foi um jogo de agitar corações. Os gigantes se pegaram feio. Parece que foi daí que nasceu a inspiração para o filme pois foi faísca e lata pra todo lado. Mas o tricolor acabou levando vantagem por dois a um. Depois daí o Ypiuranga despertou ganhando duas vezes, quatro a zero no São Cristóvão, e devolveu a goleada nos diabos rubros por cinco a zero.
Agora era o Botafogo que ficava pra trás e o velho gigante Ypiranga encostava-se ao Bahia. Mas este não se fazia de rogado e enfiou, seguidamente, 5 X 0 no Fluminense e 5 X 1 no São Cristóvão disparando de novo na frente, enquanto o Botafogo voltava a ganhar. O clássico dos gigantes Bahia X Ypiranga foi justamente marcado para 15 de novembro, quando dizem que proclamaram a tal da república.
                                                        Isso foi no tempo de Juracy!

Nesse dia a interventoria promoveu todas as festas que tinha direito para celebrar os 42 anos da dita cuja que já estava ficando velha. Foi depois de todos os desfiles e homenagens que os times entraram em campo pra se pegarem. O time canário jogava ali a sua moral de gigante. Vencendo poderia tirar a glória do tricolor que ameaçava em sua primeira participação ganhar o certame invicto e entrar para o rol dos gigantes de aço.
Mas não obstante todos os esforços do aurinegro o jogo ficou no empate em dois gols.  Ninguém mais poderia derrotar o gigante Bahia, ainda mais que o Royal saiu do campeonato e não disputou seus últimos jogos. O final ficou tão melancólico que o Fluminense enfiou dez a zero no São Cristóvão. Quanto aos gigantes Botafogo e Ypiranga a sua disputa renhida tinha ajudado a se enterrarem mutuamente.
                                             Não havia despacho pros gigantes de aço!

Não teve choro nem vela, o novato Bahia levava o caneco com os antigos jogadores da Associação e do Bahiano e passaria a ser conhecido no futuro como o Esquadrão de Aço.
·         Agradeço ao site RSSSF Brasil.

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