quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Abaixo o regime!

 
                                                     Por que ele pode e eu não posso?

Gente, apesar do título, juro que não vou falar em política hoje. A inspiração da minha crônica foi o jogo que eu assisti ontem à noite entre Os amigos de Zico e as Estrelas do Brasil que me despertou muita inveja. É que havia uma penca de gordos jogando. Ronaldo, que se aposentou outro dia, mal podia caminhar. O lateral Wladimir (lembram-se do Corinthians?) era outro que tinha o rosto deformado. O próprio Zico tinha muitos quilos a mais. Poucos mantinham a forma, como Djalminha, Zinho, Amoroso e o pessoal que ainda está na ativa. O resultado foi 7 X 5 pro time de Zico, com algumas jogadas brilhantes, muita gente paradona, em um jogo onde só correu mesmo a bola.
Mas aí vocês vão me perguntar: e porque eu tive inveja? É que desde 2008, quando apareceu uns trecos no coração, me obrigaram a fazer regime. Foi uma conspiração, que envolveu o cardiologista Carlos Augusto Souza, a nutricionista Mércia, ambos do Instituto Cardio Pulmonar, e, lá em casa, minha esposa Cybele e Cida. O resultado: três anos de miserabilidade total, quando tive que assumir novos hábitos e deixar de fazer a coisa que mais gosto: comer.
                                                          Ah a miserável da balança!

A receita pra emagrecer e tirar a barriga foi fogo: exercícios físicos e dieta. Os primeiros até que não são o fim do mundo. Tive que me matricular numa academia e utilizar ali tudo o que tinha direito. Aprendi a andar na esteira (e a correr), a alongar o corpo, a fazer abdominais (estão vendo como eu estou informado?), e até a levantar peso. A única coisa que me atrapalhava era o stress pois queria subir na balança todo dia para ver se estava realmente perdendo peso. Comprei até uma cadernetinha que levava comigo pra anotar o peso diário. Não aconselho isso a ninguém, o pavor na hora de subir na balança, a depressão de ter um peso maior do que no dia anterior, o escambau.
Parecia tudo muito fácil e até que não me dei mal com academia, mas aí aconteceu o pior: passei a ter dor nas costas e em todo lugar. No começo me disseram que era normal e se tratava de “dores musculares”. Acreditei piamente até que comecei a não poder dormir direito com as dores nas costas. Aí me queixei com o instrutor, com o chefe do turno e até com o dono da academia, e nada!
                                               Puxa, se é uma opção estou fora!

Saí da academia por causa das dores e por perceber que os “instrutores” que trabalham lá pouco instruem. Recebem por turno um “grande salário” e pagam aos clientes na mesma moeda, conversando aligeiradamente com eles e orientando de forma ainda mais ligeira. Até que são boa gente. Dá pra conversar sobre futebol, o sexo feminino, alguma política, e até sobre exercícios físicos. Mas, onde a coisa pega mesmo é quando se trata de observar como os pobres clientes estão fazendo os exercícios.
Por ficar fora da academia eu, que já estava feliz por ter avançado meu status de obeso para “sobre peso” acabei voltando para uma situação crítica. Ao invés de frequentar a academia passei a ir aos COTs da vida, em neurologistas, ortopedistas, e a fazer um montão de exames. Não tomei um só remédio. No entanto os médicos descobriram mais um montão de crecas. Sou um feliz proprietário de quatro bicos de papagaios e vários tipos de artroses.
                                                As vezes não dava pra dormir direito! 

Esta situação levou três meses, quando de repente, não mais do que de repente, as dores nas costas desapareceram e eu voltei às academias da vida. A diferença é que não fui mais sozinho, mas contratando o professor Luciano, um personal training, que me orienta sobre o que fazer e nunca mais voltei a ter dores.
Mas, quando comecei a fazer exercícios físicos tive que entrar também no diabo do regime. É aí que a coisa pega! Acho que adoro comer desde que nasci. Tive a sorte de viver com cozinheiras notáveis, minha saudosa mãe Helena, minha também saudosa sogra Dorinha, e a dobradinha Cybele/Cida. O regime a que fui obrigado abalou até os recônditos do meu ser (gostaram desta?).
                                                                  Ah que fome!

Mas não tinha jeito de escapar. Imaginem a miséria! De manhã uma vitamina, uma fatia de pão e uma xícara de café. E, pra vocês não pensarem que é fácil basta dizer que o pão é integral e o queijo é light. Vade retro! Como eu arranjei também a doença do refluxo passei a comer cinco vezes ao dia. Na verdade “comer” não é bem a palavra, pois na maioria das vezes é só um iogurte, OU duas (sic!) castanhas do Pará, OU uma barrinha de cereal, naturalmente light.
Mas vamos para o “almoço”. Este tem duas colheres de arroz, uma concha de feijão, uma carne magra do tamanho de metade de uma mão, e, pra consumar as torturas, um monte de verduras. Ou seja, literalmente, o fim dos fins da picada! Farofa, que como nordestino adoro, só uma vez por semana. E ainda nem se pode beber líquido às refeições. Como chorei e reclamei me deixaram beber dois dedos de suco. De noite é hora da sopa, mas não se animem não, são só duas conchas! A mesma xícara de café, embora tenha o “privilégio” de comer duas fatias de pão integral. Ficava com tanta fome que tinha que tomar agua enquanto esperava a barrinha de cereal das dez da noite!
                                                        É assim que eu ficava de noite!

Pra que eu aceitasse tal situação de penúria a nutricionista fez uma negociação comigo. Se eu seguisse rigorosamente o regime poderia ficar liberado aos fins de semana. Aí minha vida passou a se dividir em duas: o inferno, durante a semana, e o céu, aos sábados e domingos. No início tentei incorporar os feriados e as sextas á noite, mas não colou! O jeito foi a espera mesmo. Vocês imaginem como era a coisa. Eu comia(aliás nem comia) o pão que o diabo amassou, esperando, ansiando, e até sonhando com os fins de semana, onde iria desfrutar a alegria de estar vivo.
Desde que começava o sábado eu me esbaldava. De manhã tomava café ao triplo. No almoço comia três pratos e ainda saía à noite pra acabar de comer. No domingo era ainda pior indo nos melhores bufês da cidade e comendo tudo o que um cidadão decente tinha direito. A coisa funcionou durante certo tempo. Mas, nem passou três meses para que eu fosse parar numa emergência. Ficava ali umas horas, fazia exames, melhorava e era liberado. E ninguém conseguia diagnosticar o que eu tinha.

Em um ano fui parar sete vezes na emergência. Foi quando fui ao gastro Dr.Jecé Brandão. Ele foi na mosca me perguntando:
- Você prefere viver ou comer?
Aí ele me recomendou a comer mais no fim de semana mas sendo mais comedido. Disse-me que meu organismo não podia aguentar um regime durante a semana e o desmazelo total aos sábados e domingos. Aquilo bateu lá dentro e acabei seguindo (com evidente má vontade) as suas recomendações. Foi assim que sumi das emergências, reduzi de cento e seis para noventa e três quilos em dois anos e minha gordura no fígado sumiu.
                                                               Nem pesar em pizza!

Mas a rotina é uma desgraça. Confesso que quando pareci estabilizar em noventa e três comecei a me dar uma folga. Nem todo dia ia pra academia, algumas vezes caminhava perto de casa mesmo. Foi quando aprendi que caminhar pode fazer bem ao coração mas não adianta nada pra reduzir o peso. Passei a incorporar as noites das sextas ao meu fim de semana e as vezes não comprava os produtos light e integrais com a presteza necessária.
Pra encurtar a conversa voltei a ficar no limite do sobrepeso. A semana passada me peguei com 99 quilos, a última casa antes dos três dígitos. Justamente quando fiz exames de rotina...que deram de novo uma sobrecarga no coração.
                                                    Acarajé, nem passar por perto!

Não quero nem pensar o que vai acontecer agora! É voltar a este desgraçado do regime, estar cinco ou seis vezes por semana á maldita academia. O escambau! Êta vidinha, o que não se tem de fazer pra durar mais alguns anos!

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