sábado, 24 de dezembro de 2011

Os especialistas


Os especialistas é o novo filme de Gary McKendry com lançamento mundial há duas semanas. Quem conhece Robert de Niro sabe que ele não faz outra coisa do que filmes de ação. Nesta ele está nas mãos do inimigo Spike(Clive Owen) e cabe a sua salvação a Danny (Jason Statham), um ex-agente britânico que pensa desfrutar a sua aposentadoria.
No filme acontece de tudo e acho que muita coisa dele foi inspirada na Bahia. Todo mundo sabe que existe corrupção, suborno e malas de todo tipo no futebol, envolvendo jogadores, dirigentes e juízes. Mas quando acontece com os últimos é o que chama mais atenção. Juiz não é brincadeira nem na Bahia nem em lugar nenhum.
                                                  Tem juiz que não é brincadeira!

Só que tem uns macetes pra lidar com eles que só os macacos velhos e Gary McKendry sabem. Mas evitam a todo custo dar nome aos bois, pois poderão voltar a precisar deles. Nesta crônica vamos contar alguns casos envolvendo casos de árbitros que trabalharam na Bahia e que o filme não aproveitou.
Zago era um juiz pernambucano que pertencia ao quadro de árbitros da federação Bahiana de Futebol. Num jogo decisivo entre Vitória X Bahia circularam dois boatos, um de que havia se vendido ao rubro negro, e outro dizendo o contrário. Estabeleceu-se uma confusão só quando a coisa chegou à imprensa. Tanto foi assim que o TJD interveio, examinou o caso e eliminou o Zago.
                                                              Já acabou o jogo?

O outro caso foi o que envolveu o juiz Anivaldo Magalhães quando um torcedor do Galícia foi à sua residência oferecer-lhe quatro a cinco milhões para que ele desse o triunfo ao azulino. O árbitro, além de recusar, fez o maior escândalo, tentou agarrar o sujeito que teve que correr pra não apanhar. Mas só se soube por que ele fez a denúncia na FBF.
No livro Futebol, paixão & catimba, que traz as memórias do ex-presidente do EC Bahia Osório Vilas Boas, encontramos vários casos envolvendo os árbitros de futebol. Este, quando o clube disputou a Taça Brasil ameaçou vários deles de veto para todas as partidas em que atuasse no sentido de “coagi-los a serem honestos”.
                                Candidato estudando pra teste no quadro de árbitros da FBF!

Mas o próprio dirigente confessa que não era nenhum “santo” e fazia das suas. Conta que na excursão que o clube fez na Europa em 1957, ao chegar a Minsk na ÚRSS, procurou o juiz da partida através de uma intérprete, e lhe disse que “analisaria com muita calma e interesse a sua atuação, pois havia sido autorizado para contratar juízes estrangeiros para apitar prélios na América do Sul”. Nem precisa dizer que o juiz excedeu-se de simpatia com o time tricolor durante a partida...
No fim dos anos quarenta a Seleção baiana foi jogar em Recife pelo antigo Campeonato Brasileiro de Seleções. Durante muito tempo neste certame os pernambucanos haviam sido fregueses dos baianos. Mas, a partir de certo tempo, começaram a engrossar. Osório só assistia a partida. Ainda nem dirigia o clube nem tinha contato com os dirigentes esportivos baianos.
                                                   Sócrates sofreu na mão dos árbitros!

Mas mesmo assim conseguiu ficar no gramado junto à Polícia. O jogo foi muito conturbado. Houve um momento em que o atacante Siri, do EC Vitória, partir para agredir o juiz João Etzel, que no seu entender roubava escandalosamente para os pernambucanos. Aí a polícia do estado invadiu o campo e Osório foi no bolo, aproveitando a oportunidade pra xingar Etzel de cabo a rabo. Este porém, não se fez de rogado e afirmou:
- O segundo jogo não será lá em Salvador? Então, me aguente baiano!  
Aí o juiz mudou de lado e, segundo Osório, passou a roubar escandalosamente a favor dos baianos que foram campeões do Norte e Nordeste eliminando Pernambuco com o jogador Pequeno do Ypiranga fazendo o gol da vitória.
                                           Tem que ficar com o olho aberto Bial!

Osório conta ainda casos dos anos 60 e 70 quando o tricolor jogava fora de casa em certames nacionais. O primeiro foi em São Paulo contra o Corinthians e um juiz baiano, o Walter Gonçalves, dirigiu a partida. Mas pra Osório ele marcou um pênalti contra o clube tão absurdo que os próprios dirigentes esportivos daquele estado Mendonça Falcão, Wadih Helu e Paulo Machado de Carvalho ficaram horrorizados. Osório até hoje se pergunta por que ele agiu assim. Dinheiro? Acredita que ele se deixou pressionar pela torcida presente, que promovia uma gritaria infernal, e cedeu.
O segundo aconteceu em Porto Alegre com outro juiz baiano, o Nei Andrade. Esse viu que foi marcado contra o tricolor um gol feito com a mão mas não teve coragem de invalidar. Tanto assim que, quando acabou o jogo ele saiu correndo pra não ser linchado pelos jogadores baianos.  E à noite ainda escapuliu do hotel, com os cabides de roupa na mão, protegido pelo presidente da FBF Carlos Alberto de Andrade que lhe deu fuga.
                                                                   Virou até livro!

O terceiro foi no Ceará quando o Bahia disputava pra ver quem passava na Taça Brasil. Um locutor de rádio e também diretor do Fortaleza pressionou de cara dura o juiz baiano Alderico Conceição:
- Quantos filhos o senhor tem?
E, depois de ouvir a resposta, ameaçou:
- Marque direitinho, senão o senhor não vai mais vê-los...
Segundo Osório isso arrasou psicologicamente o juiz que prejudicou bastante o Bahia.
                                           Blatter e João Havelange juntos é demais!

Encerramos esta conversa com as máximas de Osório. Pra ele o Brasil está cheio de rivalidades regionais que se refletem nas arbitragens. Um juiz carioca, quando o jogo é entre baianos e paulistas, dificilmente deixará de ser simpático aos baianos. E, quando jogam baianos e cariocas com juiz pernambucano, a coisa fica feia para a chamada boa terra em face da rivalidade desta para com os pernambucanos.
No frigir dos ovos diz que, é o time que ganha o jogo, mas campeonato quem, ganha mesmo é a diretoria se souber “aplicar contra golpes” e olhem que não apenas em relação aos juízes. Só não conto o final do filme pra vocês verem.

·         Agradeço ao livro Futebol, paixão & catimba e ao blog Cine Pop.

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