quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Corra que a polícia vem aí!

                     
A comédia Corra que a polícia vem aí, é uma da série estrelada pelo incompetente detetive Frank Drabin(Leslie Nielsen). Esta trata da sua tentativa de interceptar um plano de assassinar a Rainha Elisabeth II (Jeanette Charles) da Inglaterra, em visita aos EUA. O mentor do plano é Vincent Ludwig(Ricardo Montalban), um magnata, que quer usar um jogador de basquete submetido a uma lavagem cerebral.
                                                      Esse Neymar não está com nada!

Logo se vê que não foi inspirado na Bahia pois aqui não há detetives incompetentes. O pessoal sabe muito bem onde as cobras se escondem, se não conseguem resolver algumas coisas é por outros motivos...A fama dos investigadores baianos ultrapassou a Polícia para se estender ao esporte. Houve até um que foi presidente do EC Bahia. Vamos falar um pouco dos métodos que levaram para o futebol.                       
No ano de 1954 os clubes baianos se reforçaram. Completava-se três anos após a entrada em funcionamento da Fonte Nova. O Bahia trouxe os atacantes Juvenal e Naninho, o goleiro Osvaldo Baliza, entre outros, contando com a ajuda de diretores como Nelson Pinheiro Chaves e Amado Bahia Monteiro elevando a sua folha de 35 para 85 contos de reis, uma fortuna para a época. O tricolor baiano começou o ano excursionando ao interior, mesmo recebendo dez a quinze contos por partida. Nas apresentações havia de tudo, inclusive recepções em prefeituras, discursos, e, também, algum futebol.
Já o Vitória, que havia no ano anterior quebrado o maior jejum de títulos da história do futebol brasileiro, contratava Gago, Vermelho, Hélio e Pinguela. Mas o Botafogo também estava quente, com sua linha de frente onde estavam Zague, Roliço e Lamarona. Nesse ano também se destacam Ypiranga, Galícia e Fluminense de Feira, sendo que seria a primeira vez que uma equipe do interior iria disputar o campeonato “baiano”.
                                                   O negócio era na base da porrada!

Mas quem pensa que o sucesso tricolor nesse ano se deve só a dinheiro engana-se. É que os métodos do investigador policial, futuro vereador, e presidente do clube Osório Vilas Boas, digamos...eram pouco ortodoxos. Com Osório não existia esse negócio de “carta branca” pra treinador. Sempre que achava necessário invadia o campo, a concentração ou até os vestiários pra dar um jeito nas coisas.
O caso do meia Mário, que no jogo contra o Galícia, abusava de fintar os adversários, foi resolvido mesmo nos vestiários durante o intervalo. É que Osório o abotoou pela camisa e o ameaçou de dar uns sopapos “se ele não jogasse como gente e insistisse em ser palhaço”. No segundo tempo o jogador jogou o que sabia e o tricolor ganhou o azulino com tranquilidade. Com o jogador Nilsinho Osório teve mesmo que chegar às vias de fato dando-lhe uns empurrões para que ele parasse de provocar os adversários.
                                                Pô, Leslie Nielsen é um medroso!

Bahia, Vitória e Botafogo ganharam cada um um turno obrigando a que houvesse um sensacional super turno para a decisão de quem levaria o caneco. Mas mesmo nessa fase o extra campo funcionou. É que, em um dos jogos contra o Botafogo, os alvirrubros haviam conseguido intimidar o jogador Nelson Curitiba, contratado no Rio de Janeiro. Pois não é que Osório desceu ao vestiário no intervalo pra resolver esse problema? No primeiro momento só fez ouvir, inclusive o disparate de que o espírito de sua mãe o aconselhara a não jogar mais. Aí mandou que todos se retirasse, e segurou o jogador pela garganta:
- Olhe aqui Nelson, você está com medo. Se você não apanhar lá no campo, vai apanhar aqui, e agora! Decida!
                          Foi assim que ele ficou quando viu os investigadores baianos atuarem!

O jogador hesitou e Osório o segurou com o braço nas costas como fazia com os ladrões na Polícia, e o empurrou pelo túnel que levava ao gramado, gritando :
- Seja homem, seja homem!
E não é que o jogador entrou correndo e acabou sendo um dos melhores jogadores em campo numa nova partida que o tricolor venceu?
                                                  Futebol naquele tempo era assim!

Mas a intervenção do presidente do clube não se limitava ao campeonato, agindo nos próprios amistosos, torneios ou excursões. Numa dessas, quando o clube jogava sua última partida do ano em Belém, notou que o zagueiro Hélio Clemente era condescendente com o ponteiro Santiago do Tuna Luso. O tricolor ganhava por dois a zero mas o cara era arisco e perigoso e dava muito trabalho também graças a essas “gentilezas” do jogador do Bahia. Aí Osório desceu no vestiário no intervalo e procurou o Hélio dizendo:
- Dê um pau naquele camarada, o Santiago, aperte ele!
Mas o presidente do clube, que achava que “futebol era pra homem”, não contava com a reação do jogador:
- Eu sou um craque, não faço esse tipo de jogo!
                                           Ah, o 007 sim. Deve ter sido inspirado na Bahia!

Osório então não caçou conversa emendando no ato:
- Tire essa camisa!
Como o jogador titubeasse, arrancou-lhe a camiseta tricolor no ato mandando, por cima do técnico, o jogador Tiago substitui-lo. Não deu outra coisa, Tiago foi lá, deu umas cotoveladas e joelhadas no tal do Santiago e este se apagou completamente em campo, em mais uma vitória tranquila do Bahia.
E assim o investigador da polícia baiana foi levando enquanto foi presidente do clube de 1954 a 1969, uma das épocas mais memoráveis do clube. Se estivesse à frente do Santos de hoje por certo este não amarelaria como fez na semana passada contra o Barça. 

·         Agradeço ao livro Futebol, paixão & catimba.

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