segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ladrão de casaca

                                          
O filme Ladrão de casaca surgiu muito antes de eu nascer. Acho que a novela policial do escritor francês Maurice Leblanc que levou o título de “Arséne Lupin ladrão-cavalheiro” é de 1907. Acabou se tornando uma série que foi adaptada para o cinema várias vezes. Tomei contato com ela quando passou para a TV nos anos 60. Poxa não deixávamos de assistir um capítulo.
Era imperdível a audácia, a elegância e a impertinência de Lupin, sempre desafiando o inspetor Ganimard, deixando atrás de si muitas paixões, zombando e ridicularizando os burgueses e as autoridades. Era o Robin Hood da minha adolescência quando eu sequer tinha uma consciência social. Quem sabe se ajudou a que eu me tornasse um militante político?
Mas o tempo passou e Arséne Lupin também. Nunca mais foi encenado. Talvez porque seja uma criação francesa. Engraçado, somos obrigados a assistir Rim tin tin, Bonanza, e tudo quanto é série norte-americana dos anos 50 e 60 e de Arséne Lupin nem sinal. Pra piorar não se fazem mais ladrões como antes. Os habilidosos batedores de carteira baianos que atuavam nos bondes, nos ônibus e na Rua Chile, e que nem atuavam armados, agora são os vulgares assaltantes que nenhum talento possuem não ser o revolver.
Até os bons ladrões, que desafiavam as autoridades do meu tempo, desapareceram do mapa. Só sobraram os picaretas que agem em nome próprio, inclusive no mundo do futebol. Um deles é o comandante maior da CBF e do Comitê Organizador da Copa Ricardo Teixeira.  Como quer ficar sozinho com os lucros da copa todo dia saem matérias sobre suas andanças.
                                                                Arséne era "o fino"...

A última veio á luz a semana passada. É a ação de improbidade movida na 5ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal que acusa de fraude uma empresa ligada a ele, a empresa Ailanto Marketing Ltda., no contrato de nove milhões para promover o jogo Brasil X Portugal (2008) em Brasília.
O documento, segundo o Ministério Público, está “eivado de vícios”, foi assinado sem licitação e contém “indícios de que houve um pacto para desviar dinheiro público”. Segundo a ação “feriu-se o interesse público, submetendo-o ao deleite pessoal e político de se ter uma partida de futebol de alto nível, que já estava há muito acertada, mas que não obedeceu aos padrões legais”.  

                                           ...e Teixeira é o grosso(o da esquerda)!

A Ailanto tem como sócio-gerente o empresário espanhol e presidente do Barcelona Sandro Roseli, amigo de Ricardo Teixeira.  A cara de pau, porém não para aí. Imaginem que a empresa funcionou vários meses em uma fazenda do próprio Teixeira, e a polícia encontrou cheques da sócia brasileira da empresa (Vanessa Almeida Precht) depositados na conta do chefão.
A empresa sequer teria cumprido com as clausulas contratuais que a obrigavam a arcar com os custos de execução da segurança, hospedagem e translado, num total de 1,3 milhão de reais, que foram saldados com a venda de ingressos pela Federação Brasiliense de Futebol. O processo ainda envolve o ex-governador de Brasília José Roberto Arruda e o ex-secretário de esportes Agnaldo Silva de Oliveira. O primeiro mandou firmar o contrato com a Ailanto passando por cima de normas legais e de parecer contrário da Corregedoria do governo.
                                                      Alguém lembra do livro?

O fato ganha ainda maior destaque em função da proximidade das eleições na CBF. É que está se verificando um tímido movimento por parte de algumas federações estaduais para lançar um candidato alternativo a Teixeira. Este, porém, que está mais pro juiz Lalau do que pra Arséne Lupin, agiu rapidamente convocando uma assembleia geral da entidade para o mesmo horário da reunião de seus possíveis “opositores”. Outras forças, no entanto apostam na renúncia de Teixeira em troca de passar a mão pela cabeça de seus crimes.
                         Marlon Brando é que era vivo entrou logo num sindicato de ladrões!

Infelizmente isso é comum no Brasil, um conchavo para a substituição de uma autoridade incômoda e fica tudo por isso mesmo. Só não sei é como vão evitar as conclusões dos processos que tendem a se avolumar a cada dia contra Teixeira.


Um comentário:

  1. A nós cabe fiscalizar. É claro que um jogo da seleção brasileira não se licita pois é promovido pela CBF. O que estamos falando aqui é um jogo contratado por um ente público que deve se reportar á lei 8666, e não vale o argumento do desconhecimento de onde foi feito para evitar a aplicação da lei.

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