terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viagem 2 – A ilha misteriosa

                                   
O filme A ilha misteriosa, dirigido por Brad Peyton, está em sua segunda parte. Desta vez o jovem Sean Anderson vai procurar a avó que está perdida em uma ilha mítica. Nesta nova viagem é acompanhado pelo namorado da mãe. No elenco há desconhecidos como Josh Hutcherson, Dwayne Johnson e Vanessa Hudgens, sendo a exceção o veterano ator de aventuras Michel Caine. 
Mas o que ninguém sabe é que a série é inspirada na Bahia. Afinal foi aqui que aconteceram quiproquós que desmoralizou os poderes públicos.  O primeiro foi há exatamente duzentos anos atrás quando brigavam os grupos políticos de Ruy Barbosa e JJ Seabra. O primeiro era a referência da oposição para as eleições presidenciais e o segundo era ministro. A oposição entrou em desespero ao se aproximar a data do pleito (fevereiro de 1912) sem candidato que pudesse fazer frente ao velho caudilho.
           Até os piratas apareceram pra roubar em Salvador!

Foi assim que imaginou um tresloucado ardil. Assim, fez renunciar o governador e o vice para assumir o presidente da Assembleia Legislativa. Como o órgão estava em recesso não pode ser convocado para decidir sobre a eleição o que garantiria o adiamento do pleito. Ciente da manobra espúria os adeptos de Seabra foram para a rua (acompanhados de gente que ficou indignada com a situação) e aí o novo “governador” mudou a capital para Jequié (acreditem!) para reunir-se sem pressões populares.
Os partidários de Seabra obtiveram sucesso no juízo federal para manter a eleição mas o “governador” não acatou entrando com outro processo na instância estadual obtendo parecer diametralmente oposto. E aí? Aplica-se a decisão estadual ou federal? Enquanto estava nesta pendenga houve a intervenção federal na Bahia. É que o presidente da república aproveitou a ocasião para afrontar seu adversário político e foi drástico e violento. O comando do Exército não quis saber de conversa comparecendo ao Palácio na Praça Municipal para advertir que só esperava até o fim da manhã para o cumprimento da decisão federal.
                                                   Quase sái porrada em Itabuna!

Sem resposta no início da tarde começaram os bombardeios, desde o Forte do Mar e o Quartel do Barbalho. A Praça Municipal e a Rua Chile foram quase destroçadas com as bombas destruindo vários prédios e danificando seriamente o próprio palácio que perdeu parte de seu acervo histórico pra não mais recuperar. A eleição houve e Seabra venceu disparado. Como sempre na Bahia ninguém foi punido e tiraram o sofá da sala. Mas o estado guarda até hoje sinais desse confronto político que manietou o Poder Legislativo e o próprio Exército Nacional.
Pois não é que as elites não aprenderam a lição? Cem anos depois, estamos assistindo na Bahia uma história semelhante mas como disse o filósofo a história só se repete como farsa. O motivo é fútil uma greve de policiais militares. Mas as razões que colocaram em movimento os atores são muito reais.
                                          Não adianta se benzer e depois intervir na Bahia!

Em meio a uma crise econômica que afeta diversos países da Europa e a outrora impugnável economia norte-americana o discurso das nossas autoridades (reforçado pela mídia á serviço do seu generoso patrocínio) é de que “o Brasil não será atingido pela crise”. Na verdade isso começou com Lula que, ao lado de dizer que a mesma não se tratava mais do que uma “marolinha” gastou os tubos do dinheiro do país dando dinheiro aos empresários para evitar a recessão. Só para os bancos foram 91 bilhões. Foi assim que Lula contornou a crise num processo que até hoje está em aberto pois nenhum veículo sério da imprensa quis se dedicar a isso até hoje.
Na verdade as ações de Lula em 2008/2009 não foram diferentes daquelas adotadas por muitos países que entregaram trilhões de dólares aos banqueiros e outros empresários para...adiar a crise por dois a três anos. Hoje estamos pagando o que Lula fez pra empurrar a crise com a barriga e as benesses que fez pra eleger Dilma.
                                                             Esse é o dono da bola!

Logo que assumiu o poder a presidenta começou a cortar gastos e despesas, voltando-se para enxugar a máquina, e especialmente para arrochar os funcionários públicos. As medidas de Dilma são semelhantes aquelas que estão sendo adotadas nos países que passam por graves crises econômicas. E foi nesse quadro que impôs severos cortes no Orçamento da União para 2012 e atingiu os estados. Só para se ter uma ideia, para a segurança pública estão alocados apenas 0,43% enquanto 47,19% são disponibilizados para o pagamento de juros e serviços e refinanciamento da dívida.
O setor de segurança gravemente afetado pela situação vem reagindo desde o ano passado quando os bombeiros do Rio de janeiro fizeram uma greve memorável e devidamente criminalizada pelo governo. Os policiais militares reagiram com uma PEC que garante a isonomia salarial da categoria em todo o Brasil acabando os absurdos que reinam, por exemplo, entre os rendimentos dos policiais de Brasília e os de Rondônia.
                                             Oh Eliana cadê o tal Poder Judiciário?

Houve diversos movimentos desde então mas a bola da vez estava reservada para a Bahia. É que aqui há um contencioso desde a greve da PM de 2001 e que foi praticamente ignorado pelo governador Jacques Wagner logo após ser eleito. Não foi á toa que a associação criada por algumas das lideranças daquela greve acabou se constituindo na maior referência da greve da categoria.
Os policiais começaram seu movimento desde novembro do ano passado sem qualquer atenção do governo estadual que preferiu ignorá-los. Diversos sinais mostravam a insatisfação nos quartéis mas o governo achou que poderia resolver a situação com o ridículo reajuste dado aos servidores públicos que sempre ignora as perdas das categorias. Pagou pra ver e viu, depois de onze anos, outra greve da PM que já dura uma semana.
                                         
                              Até os shows musicais foram cancelados!

Uma greve da PM não é simples, pois se trata de uma corporação que assegura hoje quase 90% da segurança do estado que tem uma capital em 22º lugar no mundo em matéria de mortes violentas. Mas o que chama a atenção nesta greve é o procedimento do PT e seu governador usando de força completamente desproporcional a “ameaça” sofrida e politizando a greve de forma incompetente.
Foi aqui realmente que os produtores da ilha misteriosa vieram buscar os argumentos. Em que outro lugar se veria tanto descalabro que fizeram o governador Octávio Mangabeira dizer alguma coisa como “Diga-me um absurdo e eu lhe apontarei na Bahia”. O governo agiu de forma a suspender as garantias constitucionais. Suas pressões levaram ao Ministério Público local a lacrar a sede da Associação dos Policiais, uma sociedade civil!!! A juízes efetivarem mandatos de prisão sem processos constituídos e sem direito de defesa e de constituição de advogado como manda a lei para os acusados.
                                     Será que vão jogar bombas na Assembléia Legislativa?

Amordaçou assim o Judiciário e o Legislativo que fizeram de conta que as ilegalidades não existem. A mídia local permanece autocensurada tentando agradar ao governador. Desinforma a população sobre a greve, divulga que os policiais estão por traz de todos os atos criminosos cometidos na cidade, e transmite tudo o que os governantes declaram sem entrevistar praticamente os grevistas.
Mas faltava um ato tresloucado para mostrar que a Bahia é uma terra sem lei mostrando que ficou a cultura política legada pelo famoso “cabeça branca” que governou o estado durante 40 anos com mão de ferro: a nova intervenção federal na Bahia. Quem diria que esta fosse patrocinada pelo PT, o partido que um dia ajudei a fundar e militei por tanto tempo?
                                             Nossa, me lembrou o tempo da ditadura!

Foi Wagner que pediu a presidenta Dilma a intervenção federal. E esta se faz mostrando que a Bahia pouco vale na dita federação brasileira pois sequer o assunto foi parar no Congresso Nacional, como exige a lei que trata das intervenções determinando sua discussão naquele órgão 24 horas após a decretação. O governo do estado alienou o território do CAB (onde fica a Assembleia Legislativa) em favor da União por tempo indeterminado, e a presidenta nomeou um interventor, o próprio comandante do Exército para interditar a sede da administração do estado baiano.
O Poder Legislativo da Bahia é tratado como coisa chinfrim. Cortaram - lhe a luz, cercaram-lhe, retiraram aos seus frequentadores o direito de ir e vir, fazem-lhe voos rasantes de helicópteros, e impedem até os deputados de entrar no prédio. Tudo isso, nas mais caras tradições das repúblicas de banana. Pra gozar com a cara da população baiana enquanto esta sofre todo tipo de violências e tem que se refugiar em suas casas pra escapar dos assaltos e mortes, mil soldados da tal Força Nacional ficam tomando sol na porta da Assembleia cercando os grevistas que lá estão acantonados. Em numa semana de greve da PM contabilizamos cem mortes e quase trezentos carros roubados em Salvador e região.
                                               A morte caminha solta por Salvador!

No último domingo a crise política e militar atingiu o futebol. O Comando da PM teve que levar até recrutas para garantir a rodada do campeonato baiano mas mesmo assim o policiamento foi bastante reduzido. Mas o pior mesmo ocorreu em Itabuna que recebeu o EC Bahia para jogar contra o clube local. É que os policiais da região estavam em greve e não aceitaram fazer o policiamento do jogo trancando-se no quartel. No entanto, como a Rede Bahia (que faz parte da Rede Globo) comprou os direitos de transmissão do campeonato é ela quem manda na FBF, nos estádios, nos clubes, e quem mais vir pela frente.
O que aconteceu então foi surreal. O próprio presidente da FBF telefonou para o árbitro do jogo para que desse o limite de espera previsto no regulamento, uma hora. A população de Itabuna quebrou os dois portões do estádio e entrou de graça. A tal da Força Nacional só “chegou” ás 17:15, quando já tinha começado a 6ª rodada do certame em todos os outros estádios. Mas a Rede Bahia só informou aos espectadores que estavam tendo problemas ás 17:00, quando isso não podia mais ser escondido.
                                        Os baianos estão se escondendo com outra pele!

O jogo foi realizado, mas com o ridículo de....quatro soldados do Exército. Não fossem a compreensão da população da cidade as equipes do Bahia e Itabuna, além do público e pessoal que foi trabalhar no jogo, correria sério risco. Esta semana tem mais duas rodadas pelo campeonato, e domingo tem nosso maior clássico, o BA-VI. Corre por aí que o Comando da PM está “recrutando” tudo que é estudante da polícia pra botar uma farda e leva-los ao estádio. Se a greve durar até domingo isso será o cúmulo da irresponsabilidade!  De onde provém esse mistérios da Bahia?

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