terça-feira, 1 de maio de 2012

A máquina infernal



Nem pensem que vou falar sobre um novo filme de desastres de Holywood pois na verdade pretendo contar minha experiência com esta máquina infernal, o automóvel.

A primeira e única vez que tive um carro foi nos anos 80. Lembro-me perfeitamente o dia em que cheguei na casa de maínha e ela me disse que resolveu tirar uma grana das suas economias para me dar de presente um carro.

Na época fiquei alegre pensando o quanto poderia economizar em matéria de tempo de deslocamentos para a minha atividade política e no trabalho. Depois é que me lembrei que não sabia "necas de pitibiribas" de como comprar um carro. Aí não teve jeito, tive que apelar para o mano Toínho para que me ajudasse nesta ingrata missão.
                               Tem tanto meio de transporte!


O dinheiro disponibilizado  por maínha não dava pra comprar um carro zero e tive que me contentar com um de segunda mão.Acho que o mano não procurou muito pois em alguns dias já me indicava o carro que eu deveria comprar.

Quando fui ver me deslumbrei, era um wolks branco, que aparentava ser novo, com volante moderno, bancos ajeitados, e o motor "em cima". Na ocasião nem reparei numas masssas que estavam num canto da carroceria. Marquei o dia de levar a grana e dois dias depois saía da casa com o cara pra deixar o veículo na garagem da casa de maínha.

                                               Ah desgraça!


O próximo passo foi aprender a dirigir. Me indicaram um cara que cobrava pouco e saímos durante quase um mês. Ele pegava o wolks e ia até a Paralela e largava o carro em minha mão para quie eu dirigisse. Rapaz, era o maior sufoco. A Paralela de então não era a mesma de hoje, mas, mesmo assim, passavam por alí muitos automóveis. Eu ficava pensando com meus botões:

-Porque esse cara escolheu a Paralela?

Era um desespero, eu apontava o volante para a frente e ia em linha reta até onde o proferssor mandava parar. O pacote das aulas incluía o treinamento do exame do DETRAN. Aí, uns quinze dias depois, começamos a treinar no próprio local onde o órgão fazia os exames. Se meu professor ajudou alguma coisa foi nisso. Ele sabia o trajeto que os candidatos a motorista seguiam, onde seguiam em reta, as ladeiras que subiam, as ladeiras que deciam, e me ensinou até cuspir enfiar o carro em uma vaga.

                            Olhem aí como fazer na hora do rush!


Foi assim que, quando chegou o grande dia do teste, nem pestanejei, entrando na vaga de primeira. No entanto, sofri com a minha mentalidade contra a ordem ao fazer o teste. É que não sabia que tinha que levar comigo um instrutor do DETRAN.

Pô, o cara não tinha a menor civilidade. Primeiro, entrou no carro sem sequer me dar bom dia, e foi logo mandando arrancar. É certo que seguiu o mesmo intinerário que eu estava useiro e vezeiro de percorrer. Fiz tudo muito bem, inclusive a fatídica "meia embreagem! ao subir uma ladeira. No entanto, já no final, quando eu descia uma ladeira, ao ver que não tinha nenhum carro chegando, não parei, somente sinalizando e virando á direita para prosseguir.

Fiquei puto quando soube que o cara me reprovou. Foi uma sacanagem! Fiz tudo certo, e o cara me reprovou apenas pela teoria. É que SE houvessem carros passando eu teria que parar, acender a seta, esperar, e somente após, continuar dirigindo.Passei vários dias pensando o que é a hipocrisia. Só depois é que compareceria de novo ao DETRAN para marcar novo exame.

                                  Pô, esse aí é derrubado!


Mas desta vez não dei bobeira. Treinei a morrer o trajeto do exame, fui lá até na véspera, ensaiar na fatídica ladeira. Quando chegou a hora não cacei conversa, parando no fim da descida para esperar o carro fantasma que não veio, enquanto acendia a luz, e virava a cabeça para a esquerda para fazer teatro, e cruzar garbosamente o disco de chegada com a aprovação na mão.

Ufa, já era motorista com carteira. Faltava no entanto ser confirmado pelo transito infernal. Voces podem até dizer que naquele tempo era mole, mas não era nada disso não.Tudo bem, só haviam uns 10% dos carros de hoje, mas foi aí que começaram a aparecer os problemas do carro que o mano não tinha visto.

Só pra encurtar a conversa e não chatear voces, em dois anos o meu carro "bateu motor" umas duas vezes e quebrou a caixa de marchas outras duas. Minha distração fez o resto. Nesse tempo bati o carro três vezes. A primeira foi por olhar uma moça de biquini na Barra quando mbati no carro da frente. A batida foi mansa, o problema foi realmente a mulher que viajava no bando da frente e que fez o maior escândalo.

                                             Porque não?


A segunda foi quando subia o Viaduto do Canela, e fiz uma curva muito aberta na ladeira propiciando a que um carro se chocasse violentamente contra meu paralamas esquerdo.Foi o maior "pega-pra-capar". Conferi rapidamente meus estragos percebendo que não foram tantos, apenas alguns amassos. Com o meu oponente, porém, as coisas foram bem diferentes.

O cara desceu do carro, olhou seu estrago(tinha ficado bem mal)e choramingou:

-O que é que vou dizer a meu pai!  

Foi aí que eu, que estava pensando quase o mesmo(só que era em relação a mainha), acordei, percebendo que a situação dele era pior do que a minha. Pra judiar do cara pedí-lhe a carteira, oi que fez com que voltasse para o carro e disparasse ladeira abaixo.

                                  Até um disco voador serve!


A última batida foi na Federação, quando eu, inadvertidamente, tentei fazer uma curva á esquerda numa curva, e o cara me pegou de cheio quase entrando porta adentro.Na oportunidade o cara fez o maior fuzuê, não deixando sequer que eu tirasse o carro para esperar a perícia.

Esta até hoje está vindo, tendo o cara que se conformar com a ida até a casa dos meus pais onde teve umna dura conversa com o velho.É que eu disse que levaria o carro para a minha oficina(e não a dele) e só podia pagar o conserto á prestação. Acho que meu pai acabou aceitando a proposta do cara, senão não sei o que aconteceria.

Dois anos depois, após três batidas, uma quantidade inenarrável de problemas, eis que o carro "morrer" na porta do cemitério mdo Campo Santo na Federação. Justo na hora que eu fui dar uma contramão para ultrapassar um onibus!

                                        Sai da frente!


Tentei ainda fazer o último conserto no carro. Mas quando cheguei á oficina(que ficava numa ladeira do Barbalho) não pude sequer entrar pois os freios faltaram na hora.Foi a gota dagua! Desci ali mesmo a ladeira e fui bater na Ilha do Rato, um reduto tradicional de venda de carros.

Fui chegando e me dirigindo para o primeiro corretor que encontrei:

- Quanto é que voce dá neste carro?

- Sete mil cruzeiros.

-Pode levar.

Foi assim que acabou a era do carro para mim. Passaram-se, desde então, mais de trinta anos, e nunca mais quiz saber desta pérfida invenção do ser humano, o automóvel. No início, quando falava que não tinha carro, era olhado com pena, quase com piedade:

                            Esta está estourando na Europa!

-Não se preocupe, um dia voce vai ter também.

O tempo passou e a indústria do automóvel tornou a vida urbana insuportável. Salvador vai ter ao fim deste ano quase um milhão de automóveis. Não há uma hora do dia e local da cidade onde não haja congestionamentos absurdos. Muitos taxistas deixam de trabalhar entre as 17 e as 20 horas para fugir do rush.

Quanto a mim continua a propaganda contra os carros, conversando particularmente com o pessoal que dirige o meu transporte favorito, o taxi. Mas agora ninguém mais faz cara de pensa, ao contrário, fica admirado com a minha "coragem".  Muitos querendo adotar o mesmo caminho, usar motocicleta, aderir á bicicleta, ou falar mal do metrô que nunca termina.

Acho que a "máquina mortífera" está com os dias contados.

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